9 de agosto de 2006

HOJE, AMANHÃ E DEPOIS...

Recebi a Mensagem de Pessoa, convivi com o Presbítero de Herculano e encontrei a Perdição de Camilo, embarquei na Odisseia de Homero, conheci os Maias do Eça, e as ninfas de Camões.. pesquei com Hemingway, tornei-me um Anti-cristo com Nietzsche enquanto aprendia como falava Zaratrusta..voei com Kafka, chorei com a tragédia de Shakespeare e espantei-me com a irreverência de Nabokov. Mencken apenas me disse ao ouvido o que eu queria ouvir, e sem Crime, cumpri Castigo com Dostoievski, enquanto ouvia Rachmaninov, Stravinsky ou Tchaikovsky. Perto estava Kant e longe de alguma coisa, ou coisa alguma estava Pascal em profundos pensamentos. Santo Agostinho confessou-me o que eu não queria saber, ao som de Brahms ou Vivaldi, e da família Strauss. Wagner esteve aqui, mas já não está. Lembro das tempestades de Turner, de passear com Constable, mas prefiro não pensar nas Memórias de Dali nem ouvir os gritos de Munch, enquanto calço Os sapatos de Van Gogh…vejo Kubrick, Woody e Kazan a apanhar um eléctrico de desejos e muito mais teria para contar, se não fosse tudo por uma questão de “TEMPO”.

É tempo, é contagem de movimento. A vida corre, o Mundo não para, a estrelas morrem e nascem, tal como os génios, tal como a História, tal como as nossas próprias vidas… Estar longe, não é um destino, não é um objectivo, é apenas sermos cruéis com a nossa própria existência… A solidão persiste, tal como os relógios de Dali que ficaram parados no tempo. Nesse tempo, distante e imortal, para sempre perdido na nossa memória.

HAPPY CAT

Num olhar deslavado de impurezas, um gato dorme, aninhado na poltrona mais quente do planeta em que vive, vitimado por um espaço que lhe foi dado para sobreviver.
Ali se sente protegido, mas ausente. A ingenuidade e indiferença perante o universo real da humanidade, é uma linha invisível, que não atravessa as fronteiras mais rabiscadas do seu pensamento. Para ele, a vida é tão simples como um miar, como um dormir, como um olhar pela janela das ilusões, e sem perceber o mundo real que o rodeia, ele ali fica, entre a virtualidade e a incerteza do que realmente é tudo aquilo, que ele não entende, mas que de alguma maneira o assusta…E assim permanece, na sua consciente forma de abstracção natural de uma realidade que ele não conhece, e que nem imagina existir. É essa, a sua forma simples e superficial de felicidade.

SURPRESA

Dentro da caixa estava o vazio, e ao mesmo tempo o universo inteiro. Estava o espaço, o espaço onde o tempo não passou, porque não existe tempo dentro daquele espaço...sem movimento. Era apenas uma caixa vazia, mas ao mesmo tempo cheia. Cheia de espaço, aquele espaço que tantas vezes nos faz falta ter...para viver.

(Será assim que se oferece "espaço"?)