29 de maio de 2007

A DISTOPIA DO PRESENTE

Antes só que mal acompanhado, é o que me dizem, é o que oiço, é o que todos sabemos ser melhor, mas do saber ao fazer…lá vai, lá vai o tempo.

Com a idade, sabemos bem definir o nosso papel, e as utopias do passado, dão lugar às distopias do presente. Por vezes é um presente envenenado, seja em forma de presente dado, ou presente vivido.

À beira de completar mais um ano, sinto que nada mudou, e ao mesmo tempo tudo mudou. A minha relação com as pessoas, a minha maneira de olhar o Mundo, os meus sentimentos e sobretudo a minha exigência para comigo e para com os outros.

Hoje sinto-me igual ao rapazinho que dava pontapés numa bola no meio de uma rua, algures num bairro nos arredores de Lisboa. Hoje, dou os meus pontapés, na bola, na minha vida e na vida dos outros, algures, numa rua, numa praça, numa terra dos arredores de Lisboa. Sou o mesmo rapazinho, com mais altura, com mais conhecimentos, com menos sonhos e mais pesadelos, e os pesadelos de ontem são bem diferentes dos de hoje, tal como os sonhos..Mas nunca deixam de ser, sonhos e pesadelos, pesadelos e sonhos.

A realidade deixou de ser uma coisa essencialmente abstracta, e os problemas dos outros, passaram a ser os meus problemas, agora, pertenço aos “gajos”, e os “gajos” têm problemas.

Um dia disse que sonhava ser uma criança eternamente, tentei, mas não consegui ser, não que não queira, mas porque a sociedade que me rodeia não me deixa ser. Tentei ser sempre irresponsável, porque é isso que melhor define as crianças, a falta de responsabilidade, mas não consegui.

Perdi a ingenuidade genuína das crianças, e ganhei a ingenuidade matreira dos adultos, aquela falsa ingenuidade, que usamos para enganar os que nos olham ainda como crianças, mas que no fundo, nos obrigam a ser o tal “adulto” que muitas vezes desejamos ser em criança. (Para quê desejar, se mais tarde ou mais cedo, nos vão obrigar a ser?)

Sozinho, sempre. Porque é sozinho que se ganham guerras, as nossas guerras. Não há nada melhor para nós, do que ganharmos as nossas próprias guerras, sozinhos..e contra as utopias, marchar..marchar...

6 de maio de 2007

A TUA AUSÊNCIA

Não era isto, nem aquilo, não era nada do que eu sentia. Afirmar, ou não afirmar, exercer o direito de negação de um sentimento, é cruel. Querer acreditar que ele não existe, chega a ser profano, e no longo e sagrado caminho da vida, torna-se impensável cair neste pecado.

Nunca poderia pensar que fosse possível, mas acontece, a nostalgia é difícil de entender e imprevisível, com ela, vem sempre um sentimento de saudade que nos torna frágeis e nos leva toda e qualquer espécie de razão, por muito pequena e falível que ela seja.

De repente acordei de um sonho, e não estava mergulhado num pesadelo, mas sim numa realidade. A mesma realidade que todos os dias me acorda e me deita, a realidade cruel, trágica e dramática da existência.

Foi nesta realidade, tão inocente e ao mesmo tempo traiçoeira, que descobri o que me fazia sentir assim, distante, e sem vontade própria. A tua falta, a tua ausência são a explicação que me faltava, para entender o sorriso que não tenho.