1 de junho de 2007

sacred time

Antes de nascer, era um nada sem existência em mim e nos outros, depois de morrer, serei um mesmo nada, sem existência em mim, mas com memória de existência nos outros. Talvez uma memória de termo incerto. E isso só por si, dá muito mais importância ao fim, do que ao principio do ser.

29 de maio de 2007

A DISTOPIA DO PRESENTE

Antes só que mal acompanhado, é o que me dizem, é o que oiço, é o que todos sabemos ser melhor, mas do saber ao fazer…lá vai, lá vai o tempo.

Com a idade, sabemos bem definir o nosso papel, e as utopias do passado, dão lugar às distopias do presente. Por vezes é um presente envenenado, seja em forma de presente dado, ou presente vivido.

À beira de completar mais um ano, sinto que nada mudou, e ao mesmo tempo tudo mudou. A minha relação com as pessoas, a minha maneira de olhar o Mundo, os meus sentimentos e sobretudo a minha exigência para comigo e para com os outros.

Hoje sinto-me igual ao rapazinho que dava pontapés numa bola no meio de uma rua, algures num bairro nos arredores de Lisboa. Hoje, dou os meus pontapés, na bola, na minha vida e na vida dos outros, algures, numa rua, numa praça, numa terra dos arredores de Lisboa. Sou o mesmo rapazinho, com mais altura, com mais conhecimentos, com menos sonhos e mais pesadelos, e os pesadelos de ontem são bem diferentes dos de hoje, tal como os sonhos..Mas nunca deixam de ser, sonhos e pesadelos, pesadelos e sonhos.

A realidade deixou de ser uma coisa essencialmente abstracta, e os problemas dos outros, passaram a ser os meus problemas, agora, pertenço aos “gajos”, e os “gajos” têm problemas.

Um dia disse que sonhava ser uma criança eternamente, tentei, mas não consegui ser, não que não queira, mas porque a sociedade que me rodeia não me deixa ser. Tentei ser sempre irresponsável, porque é isso que melhor define as crianças, a falta de responsabilidade, mas não consegui.

Perdi a ingenuidade genuína das crianças, e ganhei a ingenuidade matreira dos adultos, aquela falsa ingenuidade, que usamos para enganar os que nos olham ainda como crianças, mas que no fundo, nos obrigam a ser o tal “adulto” que muitas vezes desejamos ser em criança. (Para quê desejar, se mais tarde ou mais cedo, nos vão obrigar a ser?)

Sozinho, sempre. Porque é sozinho que se ganham guerras, as nossas guerras. Não há nada melhor para nós, do que ganharmos as nossas próprias guerras, sozinhos..e contra as utopias, marchar..marchar...

6 de maio de 2007

A TUA AUSÊNCIA

Não era isto, nem aquilo, não era nada do que eu sentia. Afirmar, ou não afirmar, exercer o direito de negação de um sentimento, é cruel. Querer acreditar que ele não existe, chega a ser profano, e no longo e sagrado caminho da vida, torna-se impensável cair neste pecado.

Nunca poderia pensar que fosse possível, mas acontece, a nostalgia é difícil de entender e imprevisível, com ela, vem sempre um sentimento de saudade que nos torna frágeis e nos leva toda e qualquer espécie de razão, por muito pequena e falível que ela seja.

De repente acordei de um sonho, e não estava mergulhado num pesadelo, mas sim numa realidade. A mesma realidade que todos os dias me acorda e me deita, a realidade cruel, trágica e dramática da existência.

Foi nesta realidade, tão inocente e ao mesmo tempo traiçoeira, que descobri o que me fazia sentir assim, distante, e sem vontade própria. A tua falta, a tua ausência são a explicação que me faltava, para entender o sorriso que não tenho.

9 de agosto de 2006

HOJE, AMANHÃ E DEPOIS...

Recebi a Mensagem de Pessoa, convivi com o Presbítero de Herculano e encontrei a Perdição de Camilo, embarquei na Odisseia de Homero, conheci os Maias do Eça, e as ninfas de Camões.. pesquei com Hemingway, tornei-me um Anti-cristo com Nietzsche enquanto aprendia como falava Zaratrusta..voei com Kafka, chorei com a tragédia de Shakespeare e espantei-me com a irreverência de Nabokov. Mencken apenas me disse ao ouvido o que eu queria ouvir, e sem Crime, cumpri Castigo com Dostoievski, enquanto ouvia Rachmaninov, Stravinsky ou Tchaikovsky. Perto estava Kant e longe de alguma coisa, ou coisa alguma estava Pascal em profundos pensamentos. Santo Agostinho confessou-me o que eu não queria saber, ao som de Brahms ou Vivaldi, e da família Strauss. Wagner esteve aqui, mas já não está. Lembro das tempestades de Turner, de passear com Constable, mas prefiro não pensar nas Memórias de Dali nem ouvir os gritos de Munch, enquanto calço Os sapatos de Van Gogh…vejo Kubrick, Woody e Kazan a apanhar um eléctrico de desejos e muito mais teria para contar, se não fosse tudo por uma questão de “TEMPO”.

É tempo, é contagem de movimento. A vida corre, o Mundo não para, a estrelas morrem e nascem, tal como os génios, tal como a História, tal como as nossas próprias vidas… Estar longe, não é um destino, não é um objectivo, é apenas sermos cruéis com a nossa própria existência… A solidão persiste, tal como os relógios de Dali que ficaram parados no tempo. Nesse tempo, distante e imortal, para sempre perdido na nossa memória.

HAPPY CAT

Num olhar deslavado de impurezas, um gato dorme, aninhado na poltrona mais quente do planeta em que vive, vitimado por um espaço que lhe foi dado para sobreviver.
Ali se sente protegido, mas ausente. A ingenuidade e indiferença perante o universo real da humanidade, é uma linha invisível, que não atravessa as fronteiras mais rabiscadas do seu pensamento. Para ele, a vida é tão simples como um miar, como um dormir, como um olhar pela janela das ilusões, e sem perceber o mundo real que o rodeia, ele ali fica, entre a virtualidade e a incerteza do que realmente é tudo aquilo, que ele não entende, mas que de alguma maneira o assusta…E assim permanece, na sua consciente forma de abstracção natural de uma realidade que ele não conhece, e que nem imagina existir. É essa, a sua forma simples e superficial de felicidade.

SURPRESA

Dentro da caixa estava o vazio, e ao mesmo tempo o universo inteiro. Estava o espaço, o espaço onde o tempo não passou, porque não existe tempo dentro daquele espaço...sem movimento. Era apenas uma caixa vazia, mas ao mesmo tempo cheia. Cheia de espaço, aquele espaço que tantas vezes nos faz falta ter...para viver.

(Será assim que se oferece "espaço"?)

21 de outubro de 2005

ANARQUIA

Conflitos permanentes entre a horizontalidade da existência e a verticalidade do poder absoluto, são causas profundas de desentendimento entre os homens e as tradições democráticas. Na condição de impotência física e intelectual, para mediar este conflito, o homem deixa a sua "pura persona" e passa a representar o papel do escravo da Lei e do poder secularmente instalado.

23 de agosto de 2005

ECO

Não te apago
Não te censuro
Não te estrago
Não te acuso.

Enquanto segues o caminho
Desenrola o fio da vida
Para que a possas voltar a encontrar..

Não te percas em memórias
Labirínticas,
Sinistras,
Ocultas,
Esquecidas e aconchegadas pelo pó.

Não sopres no ar
nem respires
O frio que vem do passado
Acende antes o futuro
Para que te possas aquecer…

Soletra o teu nome
Baixinho
Que eu estarei lá para o ouvir.

Não chames por Deus
Nem por mim,
Chama antes por ti…

E o eco...será o suficiente
para me fazer feliz….

20 de agosto de 2005

YAHWEH

Não te vejo, não te sinto
mais longe não posso estar
de te voltar a sentir...
Atravesso estradas, subo montanhas,
corro por campos vazios
apenas fugindo de algo
algo que me segue e me tenta prender
é culpa?
é arrependimento?
ou são apenas fantasmas?

Por onde passo, as luzes apagam-se
o sonho desperta numa realidade cruel
e o som se transfoma em silêncio.

Perdi a noção do tempo e do espaço
Não sei se alguma coisa existe...
Não sei..se eu próprio existo.

Deus não me fala ao ouvido,
não me canta uma canção
não me escreve um mandamento
nem me ilumina o caminho.

Sento-me num canto e...
Choro pela sua
Existência...!!!

COEXIST

Não termina na Religião o sentido do "COEXIST", há muito mais, a vida é unica, a nossa cidade é única, a nossa existência é unica, fui bafejado pela sorte de ter nascido onde nasci, de ter vivido onde vivi, na época em que vivo, das musicas que existem e tive e/ou tenho o prazer de ouvir, os livros, as imagens, as pessoas... os quadros e os lugares... Tive sorte, a sorte que outros não tiveram, mas com os quais "Coexisto".. Há quem não tenha a noção dessa sorte, a sorte de ser amado, ou de amar, a sorte de ser pretendido e desejado até à ultima gota de sangue que lhe corre nas veias, a sorte de conseguir sobreviver à dor dos outros. Não choro pelos erros que cometi como não vou chorar por os que não tiveram a mesma sorte que eu, não é esse o caminho, o caminho é olhar para eles, e ver neles apenas uma lição de Vida e aprender, para que não se volte a cometer os mesmos erros, e sobretudo aprender a "Coexistir" também com esses erros... As ajudas não são as lágrimas são os actos, são as atitudes que evitarão as lágrimas dos nossos filhos...

Desculpa não ter conseguido "Coexistir" da melhor maneira....

2 de agosto de 2005

...

Saberia eu onde me encontrar se porventura me perdesse ?
Não creio...

Não possuo o dom da fé
não possuo a esperança
não possuo a verdade

Andaria perdido,
triste,
sentido,
deprimido,
vulneravel,
fraco,
à deriva...um vagabundo da Vida.

Se me perdesse..não mais voltaria a encontrar o caminho...
Sentir-me ia desgastado,
farto,
irritado,
revoltado
e possivelmente viveria
na sombra da Vida,
esperando lentamente
dia após dia
o meu fim.

Não é uma fraqueza,
não é um desejo
é apenas a certeza
de tudo o que vejo

Onde estou ????

Estou Perdido...!!!!

27 de julho de 2005

QUE JOGO !!!

Prisioneiro...
da verdade
solta a mentira que há por aí
Solta o que te ocupa a culpa,
e te maltrata a alma
faz a tua a confissão.
A quem ? A Deus ?
Ao senhor dos dados?
joga
joga com ele
e ganha a tua liberdade...
Se perderes, não te culpes
foi o destino que te prendeu
em culpa alheia
à tua eterna vontade.

...

19 de julho de 2005

AQUILO QUE EU TEMIA !!!

Temo que a minha vida seja demasiado curta para te amar.
Que o tempo seja muito pouco para te sentir eternamente, especial e única.

Temo que o nosso livro se feche e se perca no sótão do passado, e que a nossa história se torne para sempre, um segredo proibido, fechado a sete chaves na prisão da inocência e no lugar da mentira.

Temo, deixar de ouvir a tua música, a tua voz, deixar de sentir o teu corpo e o teu perfume, e sobretudo a tua presença.

Temo muito a tua ausência e a tua indiferença.

Tudo temo, quando sei que já não somos cúmplices da vida que ambos levamos, e que não escrevemos.

Temo os outros, aqueles que nos separam e nos juntam outra vez.

Temos aqueles que tudo fazem, para que deixemos de existir um no outro como um só.

E como eu temo em existir sem ti, pois nada nem ninguém tem aquela importância que tu tens para mim, e que eu tanto temo em perder para sempre.

Não mais confessarei o temor de uma paixão invisível, e de um sonho a dois, tão só quanto o Mundo que habitamos.


...andava perdido por ai...ou por ali....

(Datado de: Algures em Dezembro de 2004)

4 de julho de 2005

... (SEM TITULO)

As páginas estão brancas, a tinta não corre, nem o sangue nas veias. O coração bate apenas por bater, e porque é empurrado apenas pela sobrevivência da espécie. A mente não funciona. O ar que me bate na face, não é o ar que os outros sentem, é apenas o ar que eu sinto.
Vivo a ilusão de um olhar, num movimento perpétuo entre o passado que me persegue e o futuro que não vejo. Os fantasmas bailam incessantemente, não estão cansados? Não, nada os para, nada os cansa, primeiro eu, depois eles… O seu trabalho é esse, assombrar o meu caminho, apertar o gatilho, por fim á minha serenidade existencial. Não recuo, não avanço, sinto as tonturas da viagem a elevada velocidade no espaço que nos envolve. Nada contra matéria, tudo em expansão, mas não passo sem permitir que o meu corpo se sinta em pura dissolução, fiel á ciência e á natureza que o criou…e que mais tarde o vai exigir de volta..ao seu o que é seu !!!!

Estou assustado !!!

1 de dezembro de 2001

Fotografar

Era mais simples,

Era mais fácil

Fotografar a vida do ângulo

Mais curto,

De uma posição diferente.

A preto, a branco

Ou cinzento,

A cor não importa,

Importa é fotografar a vida !

De quem ? não sei !

De todos, talvez

Ou de ninguém.

O que interessa é apontar

E disparar

Acertar no ar

Fotografar a existência

Seja de quem e do que for,

Seja a primeira,

Seja a última

O que realmente interessa é fotografar,

A quem ? o quê ?

A vida talvez.....!!!